Mitos e erros
Desde pequeno, temos o conhecimento
do frio e do calor. Sabemos reconhecer, ou melhor, sentir quando o dia esta
quente ou frio, ou seja temperatura alta ou baixa. Percebemos também, que em
certas épocas do ano, chove mais do que em outras. Conseguimos perceber muito
bem esta diferença em nosso clima, no dia a dia.
As Estações do Ano tiveram origem exatamente nessa percepção da variação em
nosso clima (chuvas, estiagem, inflorescência, temperatura alta e baixa) de
região para região.
Aprendemos na escola que existem as chamadas estações do ano e que ocorrem
devido o movimento de Translação da Terra em torno do Sol e também devido à
inclinação do eixo de rotação de nosso planeta.
Um grande mito, que ainda existe
atualmente, leva algumas pessoas a pensarem que o calor (aliás, usar a palavra
calor é errado, pois calor é energia – deveríamos usar o termo temperatura
alta) ocorre quando estamos mais próximos do Sol. E que, quando estamos mais
distantes do Sol, ocorre o Inverno, ou seja, o frio. A distância da Terra em
relação o Sol realmente varia enquanto ocorre a Translação (pois, a órbita da
Terra é uma Elipse e não um círculo perfeito), mas essa variação de distancia
não é significativa para determinar a variação de temperatura em nosso planeta
a ponto de provocar as estações do ano.
O que mais contribui para esta
variação é a inclinação do eixo de rotação da Terra em relação a uma
perpendicular ao plano de sua órbita (a órbita da Terra é chamada de Eclíptica),
que é de 23 graus e 27 minutos. Se fosse a distancia e não a inclinação do eixo
de Rotação que influenciassem as estações do ano em nosso planeta, teríamos de
ter a mesma estação em ambos os hemisférios terrestres (norte e sul) ao mesmo
tempo. Mas, sabemos que quando é verão para nós aqui do hemisfério sul, temos o
inverno no hemisfério norte. Isto ocorre devido os 23 graus e 27 minutos de
inclinação de nosso eixo. Em certo momento temos o hemisfério norte mais
voltado para o Sol e em outro momento temos o sul mais voltado para o Sol,
provocando esta variação de temperatura que acaba ocasionando as estações do
ano.
Veja no desenho abaixo esses dois
momentos:
(Obs.: Os desenhos não estão em
escala de tamanho)
Percebemos claramente pelo desenho
que nesses dois momentos da órbita terrestre em torno do Sol, que em um deles
(item A) o hemisfério norte (acima da linha do Equador) está mais voltado para
nossa estrela e em outro (item B) é o hemisfério Sul. Temos então que, as
estações do ano são sempre inversas de um hemisfério para o outro. Quando é
verão no norte será inverno no sul. Quando é primavera no sul, será outono no
norte e assim por diante.
Equinócios e Solstícios
As estações de verão e inverno se
iniciam quando o Sol passa pelos chamados solstícios. Essa palavra quer dizer
Sol estacionário. Existem dois solstícios: o de verão e o de inverno. Nossos
antepassados definiram esta data pelo dia em que o Sol estaria mais afastado
(declinado) do ponto cardeal Leste exato. Após a data do Solstício, o Sol volta
a caminhar para o Leste. Para nós do hemisfério sul, quando o Sol se encontra
no solstício de verão, significa que ele esta em seu maior afastamento angular
do ponto Leste em direção ao Sul. Este afastamento é de 23 graus e 27 minutos
(na verdade quando analisamos o afastamento do Sol no poente ou nascente esse
valor acontece apenas para quem se encontra na Linha do Equador; quanto mais
afastado do Equador maior é esse ângulo), sendo definido pela própria
inclinação do eixo de rotação de nosso planeta. Neste dia significa dizer
também que o hemisfério norte estará ocorrendo o inverno, pois o Sol se
encontra declinado mais ao sul, portanto mais baixo no horizonte e não próximo
a nossa cabeça ao meio dia, provocando uma menor intensidade de calor. Como a
Terra demora 1 ano para completar uma volta em torno do Sol , seis meses depois
, as estações de verão e inverno se invertem nos hemisférios. Os dias em que
ocorre esse máximo afastamento do Sol em relação ao ponto Leste exato são: 21
de Junho (Inverno no Sul e Verão no Norte) e 21 de Dezembro (Verão no Sul e
Inverno no Norte). Essas datas podem variar de acordo com nosso calendário
devido ao ano bissexto e pelo horário de verão. Essa variação em média, pode
ser de 1 dia.
As estações intermediárias, da
primavera e do outono, são marcadas pela entrada do Sol nos Equinócios. A
palavra Equinócio, quer dizer igualdade entre o dia e a noite. Será somente nos
Equinócios que teremos um dia de 12 horas e uma noite de 12 horas (não chega a
ser exata, pois depende do local em que o observador se está localizado), e
também somente nos Equinócios é que o Sol nasce exatamente no ponto cardeal
Leste. Isto ocorre duas vezes ao ano, no Equinócio da primavera em 23 de
Setembro e no Equinócio do Outono em 23 de Março, sendo essas estações para
hemisfério Sul, pois 23 de Setembro para o Norte marcará a entrada do Outono e
23 de Março a da primavera.
Essas datas também podem variar a exemplo dos solstícios.
Vejamos o desenho abaixo:
Um pequeno erro.
Existe um erro bem simples nisso
tudo. Vejamos:
Quando dizemos, por exemplo, que no
dia 21 de Junho começa o Inverno para nós aqui do hemisfério sul, cometemos um
erro. Na verdade, no dia 21 de junho é o momento em que o Sol se encontra mais
declinado ao norte para nós, então esta data deveria marcar exatamente o ápice
do inverno e não sua entrada. O mesmo ocorre no verão, dia 21 de Dezembro
significa o meio do verão para o sul e não o seu inicio! Pois a partir desta
data o Sol começa novamente a caminhar de volta para o ponto Leste, dia a dia,
até chegar o próximo Equinócio. E assim sucessivamente durante todos os anos.
Podemos afirmar que cada estação
começaria na verdade, em média, 45 dias antes da data que usamos atualmente e
que as datas oficiais da entrada em cada estação significam na verdade seu
meio, seu ápice! Por que não se muda isso? Porque usamos isso desde nossa
antiguidade como uma convenção que se perdura até hoje. Aliás, muitas convenções
se perduram até hoje! Mas temos de lembrar que, astronomicamente falando,
existe este erro e pode ser corrigido. Mas…
As linhas dos trópicos e a precessão
da Terra
Seguindo esta idéia de atualização
nas estações do ano, posso dizer que os nomes das linhas dos trópicos também
deveriam ser atualizados devido o movimento de precessão da Terra. Junto ao
movimento de precessão, atua o de nutação, causado pela força gravitacional da
Lua.
Hoje, deveríamos chamar o Trópico de Câncer de Trópico de Gêmeos e o de Capricórnio
de Trópico de Sagitário, pois é onde o Sol se encontra hoje nas datas dos
ápices dessas estações.
A precessão é um dos 15 movimentos
conhecidos de nosso planeta e tem uma duração de aproximadamente 26.000 anos
para completar uma volta. Este movimento nada mais é do que um movimento que
nosso eixo de rotação executa fazendo um bamboleado como um pião quando gira.
Isto faz com que as constelações se
desloquem na esfera celeste, alterando ano após ano, a localização entre as
constelações zodiacais (cortadas pela linha da Eclíptica) da posição do Sol
durante a translação da Terra. Em qualquer programa de planetário (gratuitos na
Internet, como o Stellarium) onde se mostra à posição do Sol na esfera
celeste, se pode comprovar isto.
Nota: Este movimento também altera os
signos das pessoas. Então, para quem acredita em Astrologia, isto é um grande
incômodo! Por isso, ao fazer um Mapa Astral, você está sendo enganado!
Outro ponto interessante sobre as
estações do ano para nós aqui no Brasil é fazer uma pergunta bem simples: em
qual estação do ano estamos agora?
A resposta a princípio é óbvia! Mas,
se analisarmos com calma, chegaremos a uma resposta no mínimo curiosa.
Sabemos que é a Linha do Equador que divide a Terra em 2 hemisférios (norte e
sul) e que nosso país é cortado por esta linha no extremo norte. Então, olhando
o mapa do Brasil, a resposta à pergunta acima, passa a ter 2 opções e irá
depender da cidade que você se encontra, pois se estiver abaixo da Linha do
Equador, você se encontra no hemisfério sul e estará numa determinada estação
do ano, mas para quem está acima da Linha do Equador, a estação será inversa.
Sabemos que na prática, para as cidades próximas da linha do equador, se diz
que existem apenas duas estações: a estação da chuva e a da seca.
Finalmente, o que eu quero, através
deste texto, é mostrar uma forma didática de se ensinar as estações do ano nas
escolas.
Quem sabe um dia nós teremos a data
astronômica correta (referente às estações do ano) em nossos calendários, assim
como a atualização dos nomes das linhas dos trópicos e poderemos ver então,
nossos professores ensinando corretamente esse tema nas escolas e
universidades. Afinal, todos os calendários são baseados em eventos
astronômicos (efemérides).